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Da agroecologia às noites antipatriarcais: as estratégias de cuidado das mulheres camponesas revistas e fortalecidas durante a pandemia

Em entrevista a Gênero e Número, Atiliana Brunetto, integrante da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, fala sobre as formas de organização coletivas do trabalho e do cuidar lideradas por mulheres nesse momento de crise

Por Aline Gatto Boueri*

62% das mulheres em zonas rurais que responderam à pesquisa “Sem parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia” afirmaram que passaram a cuidar de alguém na quarentena. Como o trabalho de cuidado tem impacto sobre o trabalho da mulher no campo?

Atiliana Brunetto – Não é muito diferente do que nós estamos vivendo na cidade, com a sobrecarga de trabalho. O cuidado já é, parece, sinônimo de mulher. Eu vou falar bem desse olhar, das mulheres sem terra, e isso elas nos trazem com muita frequência e com muita clareza de que isso passou a ser mais uma atividade, além do que elas já fazem. Alguém teve que cuidar das pessoas para que outros possam sair. Ainda mais nesse sentido de que nós estamos em atividades de solidariedade, em atividades de produção, então as mulheres se sobrecarregaram dessa tarefa também, além de ter que produzir. Elas produzem as hortaliças, aquilo que a gente chama de quintal, tudo ali é responsabilidade das companheiras, na sua maioria. As companheiras estão produzindo, estão cuidando dos pequenos animais, cuidando das hortas e ainda houve uma sobrecarga no sentido da educação dos filhos. Na área rural, as mulheres – que muitas vezes não têm uma formação – tiveram que orientar seus filhos nesse processo das aulas à distância. Isso aumentou em grande grau na vida das mulheres no campo. 

O que as companheiras dizem é que, primeiro, é uma loucura ter as crianças em casa, nesse sentido de ter muitas coisas para fazer e agora sobrecarregar, de ter que tirar um tempo também para cuidar das tarefas das crianças que estão em idade em idade escolar, além do estresse. E a gente tem que segurar, né? As companheiras dizem muito que não dá pra brigar, não dá pra fazer aquela costumeira ralhazinha neles, porque é um período especial, em que as crianças também estão sofrendo e a gente tem essa compreensão. Apesar de que no assentamento ainda há uma certa liberdade, porque a gente tem o quintal, as crianças também estão em casa, toda hora pedindo alguma coisa, e é preciso estar observando toda hora.

Sobre as dinâmicas de cuidado coletivas, em um contexto de um assentamento ou um acampamento que se organiza de maneira coletiva, como o dia a dia foi afetado pelo contexto da pandemia?

Atiliana – Nos assentamentos onde temos as cirandas infantis, a gente vê o diferencial que isso é para as mulheres. Em períodos de muito trabalho, intenso, a gente tem esse espaço de fazer comida comum e a ciranda funciona nesse período o dia todo. Então as mulheres, homens e jovens vão para a roça e as crianças são colocadas na ciranda infantil. Alguns companheiros vão cuidar da alimentação, porque ninguém vai almoçar na sua casa, então o almoço vai ser coletivo. Essa coletividade é muito bonita dentro do MST. 

Aqui no estado do Mato Grosso do Sul, por exemplo, estamos na terceira fase de um curso para agentes populares de saúde, no sentido de solidariedade. Não é um curso para arrumar um emprego dali a pouco, mas para dar orientação a homens e mulheres – na sua maioria está sendo mulheres – para poder aumentar esse laço de cuidado. Porque nesse momento nós precisamos nos cuidar também. Então acho que essa ideia de cuidado aumentou muito mais. E a gente tem colocado para as companheiras também seu papel importante, de que cuidado não é uma tarefa qualquer hoje, é uma tarefa essencial nesse processo. Não é um cuidado só referente a casa, filhos e tudo mais. Eu quero afirmar que esse sentido do cuidado foi impactado de uma forma bem positiva no interior do MST. Quando a gente conversa com as mulheres de outros movimentos a gente ouve que também passam por esse melhoramento, esse maior cuidado. Em todas as áreas tem alguém para cuidar nesse sentido e acompanhar os dados da nossa base, saber como estamos, quantos perdemos, o que aconteceu, por que nao conseguimos salvá-los.  A organicidade dos movimentos ajuda bastante, favorece esse processo de cuidado. E a gente afirmou essa necessidade de uma organicidade que chega às nossas famílias lá na base, que foi fundamental.

No caso de mulheres que cuidam especificamente de crianças, que estratégias de organização foram alteradas pelo contexto da pandemia e como o fechamento de escolas e creches impactou o trabalho no campo?

Atiliana – O que as mulheres têm dito é que a estratégia é tirar um momento para ter esse espaço com as crianças, de cuidados, e de sentar, pensar com mais tempo, para garantir essa formação. E outras procuraram outras companheiras que possam ajudar nesse processo da educação. Porque muitas companheiras do campo não têm formação, então vêm com essa dificuldade. Nesse momento é importante a solidariedade entre mulheres para poder contribuir nessa formação das crianças, que não seja superficial. A gente tenta que quem tem a formação cuide desse horário específico para fazer com que as crianças aprendam de forma mais verdadeira ali, junto com a companheira.

Como se constrói essa rede de solidariedade e qual é a importância dela nesse contexto de pandemia?

Atiliana – As mulheres são seres coletivos, por natureza. Nesse processo da pandemia, desde abril, nós no MST instituímos uma campanha chamada “Mulheres Sem Terra Contra os Vírus” e as Violências e a gente tem tentado pensar os cuidados a partir dessa campanha. A questão da falta da comunicação, a nossa fragilidade nessa questão da comunicação, ainda é muito difícil para nós, em especial para as mulheres, porque temos muita dificuldade de domínio da máquina, da internet.

O primeiro eixo é a questão da violência, todos os tipos da violência – e aí a gente trabalha todos os tipos de violência que atingem os sujeitos vulneráveis, que perpassa todo o processo da conjuntura que estamos vivendo. O segundo eixo da campanha é o eixo do cuidado da saúde e do trabalho, porque aí a gente traz o debate da sobrecarga, conversamos sobre a divisão sexual do trabalho, em especial aquilo que a sociedade tem como tarefa das mulheres: os trabalhos domésticos. E no terceiro eixo a gente traz a questão da resistência ativa na reforma agrária popular, aí a gente traz a ação do MST enquanto instrumento de luta, onde as mulheres estão nesse processo produtivo, quem somos nós nas ações de solidariedade do MST.

Em Sergipe, doação de 25 toneladas de alimentos produzidos pelo MST | Foto: Márcio Garcez/MST

E qual é o papel das mulheres nas ações de solidariedade do MST? 

Atiliana – Nós estamos em todas as frentes das nossas lutas, do movimento. Em todos os movimentos do campo as mulheres estão na produção, na organização, na definição dos processos. Não quer dizer que não enfrentamos o machismo e o patriarcado nesse processo. Nós estamos dizendo internamente que a gente tem que garantir essa visibilidade das mulheres, que ainda é muito difícil para nós nesse meio do campo. A gente entende que o campo é machista e patriarcal e que é difícil de introduzir o tema, assim como na sociedade em geral, da importância e o papel das mulheres nessa construção. Nós estamos à frente e é só olhar as fotografias das lutas da classe trabalhadora e perceber quem está à frente da produção, organização das cestas, da comercialização. E as mulheres não estão ali em pequena quantidade, é em muita quantidade nesse processo de enfrentamento da pandemia, na preocupação com os povos, com a periferia. E a gente tem feito esse trabalho de solidariedade entre nós.

Todas nós temos um papel importante nesse processo da pandemia. A gente tem um lema na Via Campesina Internacional que é “ficar em casa, mas não em silêncio”. E esse lema a gente tenta traduzir no fazer do MST. Essa é uma ideia de um conjunto de mulheres que está vinculada à Via Campesina, que é um movimento de articulação internacional dos movimentos do campo. A gente tem a clareza desse momento, da pandemia, dos cuidados e tudo mais, mas também temos a clareza de que nós, enquanto agricultores, somos essa esperança de comida, de organização da produção para que o povo tenha comida. A gente tem muita clareza de que as grandes empresas não vão pensar no povo, vão pensar em ganhar dinheiro nesse momento. A gente está muito preocupado com a alimentação durante e depois da pandemia na América Latina. Nesse processo as mulheres são responsáveis pelas hortas, pelo entorno, por pensar a saúde, pensar a produção. Porque, para nós, plantar alimento é já iniciar um cuidado com a saúde. 

Então qual é o nosso papel? Nós sempre dizemos que o MST não é uma ilha e nós vivemos numa sociedade capitalista, e isso não é justificativa, mas sim uma constatação para que a gente possa ir reconstruindo e desconstruindo ideias do capitalismo em nós. 

Você sentiu que as mulheres reclamaram mais, nesse contexto da pandemia, de um aumento das violências? Como esse debate se dá dentro do MST?

Atiliana – Apesar de muita ruptura, muita formação, a gente ainda percebe o sistema com o domínio da comunicação, com domínio da hegemonia de ideias, que é muito forte e são muitos desafios para romper. Depois de duas ou três semanas em isolamento, nós começamos a receber algumas denúncias. Assim como na cidade houve aumento, no mundo rural também houve. E no campo é aquela violência que a gente não percebe que é violência. Há cinco anos a gente tem conversado muito com as mulheres para ampliar o leque do sentido do que é violência.

Nesse período de pandemia houve muita denúncia com relação a essas outras violências que causam a última, que é violência física. A gente percebeu esse aumento de violência, mas não é só com o processo da pandemia, porque ela não é um processo isolado, ela é parte de um processo da crise do capital.

Assim como já vivíamos um processo de desvalorização das mulheres desde o golpe, que veio aumentando com a eleição desse governo, nós percebemos que a “legalidade” que ele dava pra isso também ajudou nesse aumento. Não é só a pandemia e viver confinado, mas esse processo que o governo “legalizou” também fortalece o processo da violência contra mulheres, tanto no campo quanto na cidade.

E você tem a percepção de que houve um aumento específico em algum tipo de violência? Pensando nisso que você disse da ampliação do leque de sentido do que significa violência.

Atiliana –  Violência psicológica. A questão da pressão, de dizer “você não faz bem isso ou aquilo”, a humilhação. Esse processo de dizer para as companheiras que elas não têm capacidade de fazer as coisas. A violência física acontece, mas acho que a gente fica mais ali no psicológico, e isso muitas mulheres não conseguem perceber. Nesse período as companheiras foram fortes no sentido de dizer que não querem mais sofrer. Sofrer para nós não é só ser violentada fisicamente, mas também moralmente, psicologicamente, fazer com que a nossa auto-estima fique para baixo. Essa questão do psicológico tem afetado muito as mulheres, tem adoecido muito. Já acontecia e nesse período se aguçou.

Eu sou da direção nacional pelo setor de gênero, é um setor que tem como principal tarefa fomentar a participação efetiva das mulheres. Nós não somos mulheres para ficar de enfeite. O sistema capitalista nos afeta enquanto mulheres, não há possibilidade de uma vida com dignidade pras mulheres no sistema capitalista – e acho que pra ninguém.

Esse trabalho é feito com os homens do movimento também?

Atiliana –  Há 4 anos estamos trabalhando em específico com os homens. Começamos a preparar atividades específicas com os companheiros e mistas, no sentido de alinhar nossa compreensão de vida, aquilo que as mulheres entendem como vida digna e o que os homens entendem. Temos feitos assembleias com os homens e colocamos muito a questão da violência, porque isso incomoda e nos atinge muito. E a compreensão do que nós construímos na Via Campesina Internacional, que é o Feminismo Camponês e popular.

A gente tem também espaço específico das mulheres para poder conversar, porque a gente percebe que há dificuldade das mulheres conversarem sobre algumas particularidades da vida frente aos homens. Tem uma outra atividade com os homens que se chama Noite antipatriarcal, que é uma noite de reflexão onde as mulheres falam para os homens o que a gente tem sentido, o que a gente tem vivido, no MST e na vida no campo.

Muitos movimentos da Via Campesina Brasil já incorporaram o espaço de formação com os companheiros, já é uma prática dos movimentos do campo que são ligados à via campesina.

E quais estratégias o MST busca para amparar essas mulheres que denunciam a violência nesse contexto específico da pandemia?

Atiliana – Como a campanha não é só na pandemia, ela foi adiantada por esse processo, a gente foi também construindo formas de poder cuidar nesse período, mas já pensando no que vem depois também. Porque a ideia de que em território Sem Terra não pode haver violência é uma ideia que a gente tem que construir e afirmar. Em muitos estados há muita dificuldade ainda de se organizar nesse período de pandemia, porque nós como Movimento Sem Terra não aconselhamos nenhuma reunião presencial, todas as reuniões estão sendo virtuais, então essa dificuldade é muito grande. Alguns estados o setor tem uma certa organização e as mulheres tem uma certa cumplicidade a gente vai conseguindo implementar algumas propostas. Por exemplo, nós estamos com a perspectiva de construir nos estados uma equipe multidisciplinar que possa conversar e acompanhar as companheiras nesse processo. As companheiras do setor de gênero, junto com as companheiras dirigentes nacionais, constituem um grupo a partir da articulação do movimento com várias especialidades e constroem essa equipe para poder apoiar, contribuir e conversar, primeiro com a mulher que nos procura, e depois com os companheiros, também nessa perspectiva de compreender esse processo. 

E é muito difícil conversar com os companheiros, já vou dizendo para você, porque eles têm muita dificuldade de compreender que é violência, especialmente nessa questão da violência psicológica. Quando a gente não constrói uma equipe, em alguns espaços conseguimos construir um grupo de mulheres que pode atender em primeiro momento essa companheira que está necessitando de apoio. E em nível nacional temos um grupo do setor de gênero que vai dando apoio e suporte para as companheiras que estão nos espaços estaduais para dar uma orientação do que fazer, do que encaminhar com a companheira, com o companheiro. E isso é uma prática das mulheres não só do MST, mas dos movimentos do campo.

Houve alguma mudança nessa forma de dar suporte durante a pandemia? 

Atiliana – Na verdade, no MST, a maioria das estratégias foi construída durante a pandemia. Em alguns estados onde temos mais incidência de denúncia, nós tivemos que fazer isso, tivemos que ir até a área, então para ir até a área você precisa ter um grupo que organize a questão dos cuidados, dos equipamentos, e tudo foi pensado nesse período. A pandemia também adiantou o nosso organizar da campanha interna, porque aí a gente ficou muito preocupado de como a gente chega nas áreas. E é isso que a gente tem feito nesse momento de pandemia, e a ideia é continuar com esse fortalecimento, para chegar na pós pandemia com muito mais mulheres organizadas no sentido do cuidado uma com a outra.

E na nossa vida diária a gente ouve as mulheres. Às vezes nos ligam de madrugada, de noite, qualquer hora estamos abertas a conversar, a ouvi-las, saber da realidade delas, especialmente nesse período que a gente não está podendo encontrar. Mesmo antes já tinha uma certa conversa entre nós, qualquer período podia ligar, e agora como aguçou um pouquinho isso, a gente teve que adiantar. Acho que essa compreensão que a gente tem de que quando as mulheres entendem qual é o papel do capitalismo na vida delas, elas entendem e entram para a luta nessa busca da emancipação das mulheres e elas não saem, porque elas compreendem que é só transformando esse modo de viver do capital que a gente vai ter uma vida mais digna, com liberdade, com direitos, de ser o que a gente gosta de ser.

Formação de Agentes Populares de Saúde. Foto: Daniel Silva/ MST Regional Pajeú

Você mencionou a sobrecarga e as violências e eu gostaria de saber se há outras dificuldades enfrentadas pelas mulheres do campo nesse contexto, especialmente no que diz respeito ao acesso à saúde ou acesso a medicamentos e a bens que nesse momento talvez estejam com menor circulação.

Atiliana – Quero trazer o sentido de saúde para o MST. A saúde é o bem-estar de todo nosso corpo, da nossa família, uma saúde que pensa prevenção, e não a doença. Nesse período temos construído como estratégia de  cuidado o que nós chamamos de Comitê de Saúde, um espaço do movimento que tem pensado e cuidado do nosso povo, para acompanhar diretamente os acampamentos e assentamentos, no sentido do entrar do Covid nas áreas. A gente tem essa brigada em nível estadual, regional e nacional. Nesse espaço as mulheres têm muito domínio na questão da fitoterapia e da homeopatia. O setor de saúde, em especial as mulheres que compõem o setor de saúde, têm trabalhado muito na medicina alternativa. A gente tem em muitas áreas essa questão das ervas medicinais, é muito conhecimento com relação a isso. 

Não tivemos muita reclamação sobre falta de remédio, mas como estamos vivendo num estado onde tem proibição de 20 anos de investimento na saúde, toda sociedade sofre pela falta de remédio, pela falta de de equipamentos e tudo mais. 

Mas nós temos muito garantido o debate da homeopatia, temos feito campanhas e produção e fazendo chegar aos nossos assentamentos e acampamentos o preparado da homeopatia para prevenir a entrada da doença nas nossas áreas. Com todo esse cuidado que a gente tem, no nosso levantamento identificamos cerca de 300 pessoas com Covid nas áreas de assentamento do MST. Isso reflete um pouco cuidado que setor de saúde já vinha fortalecendo na produção de ervas medicinais. E reconhecendo muito mesmo o conhecimento das mulheres e dos povos indígenas nessa questão da medicina alternativa.

Esse resgate que o setor de saúde tem feito do conhecimento dos povos, das mulheres, faz grande diferença nesse cuidado da saúde dentro do MST. E isso tem impacto na nossa vida, porque temos que produzir nosso próprio remédio, que não é só as ervas medicinais, mas a nossa comida sem agrotóxico, que faz parte dos cuidados que as mulheres fazem nesse processo de produção de alimentos saudáveis. 

Por isso a gente trabalha muito essa questão da agroecologia, que para nós, no conjunto das mulheres do campo, é fundamental nesse processo de rever nossa forma de produzir alimento. O que o agronegócio produz não é alimento, porque ele só sacia. Alimentar para nós é dar condições de a gente poder ter saúde e a alimentação que a agroindústria vem fazendo não tem essa preocupação. Não é só produzir alimentos sem veneno, mas também é uma forma de viver em consonância com a natureza, respeitando todo tipo de vida que vive em nossos lotes, em nossos acampamentos, em nossos assentamentos.

Qual é a especificidade do debate sobre raça no MST?

Atiliana – Nós trabalhamos como compreensão da luta pela terra no seu contexto geral. Nós não podemos lutar pela terra desrespeitando um processo que já existe, que é a questão dos povos indígenas e dos quilombos. Todos nós, movimentos rurais, indígenas e quilombolas, somos movimentos que têm o mesmo objetivo, que é a democratização da terra. A gente vive numa unidade de tarefas para nós conseguirmos essa libertação da terra, garantir a demarcação das terras indígenas, a titulação das terras quilombolas. Temos grande presença de negritude no interior do MST e a luta contra racismo é fundamental. Enquanto movimento de mulheres, colocamos como uma luta estruturante, como é estruturante no sistema capitalista o patriarcado e o racismo. O sistema capitalista foi se fortalecendo a partir da desvalorização das mulheres, das pessoas segundo a sua cor.

*Aline Gatto Boueri é colaboradora da Gênero e Número